sem título – 107

Ah! O sabor da noite!

Salobra visão junto ao preto café, onde a

matula de transgêneros vendem o nada de dignidade,

ralando seus tamancos de esquina em esquina

comércio comum nesta avenida

modo de vida talvez

tenebrosas gangues de tamancos

quebram o silêncio com suas vozes andróginas

rodopiando como pombas giras

para lá e para cá, até que chegue a

radio patrulha que

sem mais encostam e abusam de sua autoridade

prevalece sempre a lei do mais forte

sem título – 106

Filosofia do Pão de Queijo

Sábado passado fui comprar pão de queijo para fazer, pois iria receber uma ilustre visita.
Incoerentemente o primeiro produto que peguei fui o pão de queijo e coloquei no carrinho, continuando comprar o que estava faltando em casa. Obviamente aconteceu esperado, o pão de queijo se amassou e deformou, chegando até a descongelar um tanto. Apenas dois pacotinhos se salvaram com uma certa forma padrão mantida.

Chegando em casa devolvi-os para o congelador.

A ilustre visita apareceu, mas desistiu do pão de queijo pois tinha sido substituído pelo chocolate.
“Maravilha” pensei eu.

Pois bem, esta manhã [quarta-feira] resolvi fazer uma fornada de pão de queijo para café da manhã. No congelador encontrei dois pacotes com uma forma ainda preservada, e dois como uma massa compacta e disforme. Obviamente que mantive intactos os melhores, escolhendo a forma compacta, afinal sobreviveria com um pão de queijo absolutamente torto.

De posse de um martelo, delicadamente destrocei a massa em pedaços com um certo tamanho padrão mas eles se pareciam mais com paralelepípedos do que bolotas de pão de queijo.

O pensamento meme que me veio foi “bolinhas de pão de queijo são para os fracos, os fortes fazem pedras”.

Porém certamente, quando aquecidos eles tomaram a foma um pouco mais arredondada. Com o mesmo sabor.

Concluindo o pensamento:

A sociedade compra um pão de queijo redondo, “bonitinho”, por que foi doutrinada a escolher o pão de queijo redondo e bonito. Assim quem produz o pão de queijo, espera fazer ele redondo para que seja aceito e comprado pela sociedade. Por isso todos tem que seguir o molde.

Mas o sabor não está no molde e sim na massa que o forma. Obviamente precisa seguir um certo padrão de tamanho, n podendo ser completamente achatado e fino, senão torrará na hora da fornada, nem de tamanho desproporcional, por que se não irá ficar cru. Mas mesmo isso tem sempre como corrigir, tirando os menos favorecidos antes, e os mais lentos depois.

Ou seja o formato no final não influiu em nada.

Agora “le grand finale”

Pense: O quanto nos parecemos com pães de queijo, tentando imprimir uma imagem redonda e suculenta para a sociedade, sem se importar com o sabor e tempero próprio?

sem título – 105

Latina Saliva
Fogo líquido que escorre

Veneno pelo canto dos lábios vermelhos
Latino veneno

calido
caído, com seu seios decadentes,
enrugados e murchos

bicos protusos
já muito sugados
uma puta

puta venenosa
que envenena desde o olhar

puta que fala com voz mansa
que pede cigarro e um drink a mais na mesa do bar
a mais barata das putas

putas… todas são
todas tem seu preço

todas putas
seja o carro para o motel
seja a conta da noite
sejam palavras certas e juras de amor
a segurança da racionalidade
vacas que pastam

todas putas tem seu preço
todas gemem
umas mais
outras menos

todas, seu preço

e o mais caro ainda
o amor

o preço mais caro… o amor

putas baratas de uma noite só
para que pagar tão caro?
para que o amor, tão caro preço?

Latina Saliva que escorre
da vagina úmida e caliente
3 ou 4 dedos já nem sente

puta barata
puta com corrimento
puta de São Jorge
putas querem juras de amor
puta
puta
puta
mais uma vez

filha da puta!

sem título -104

Esta música me lembra março de 2011, qdo recém mudei para este apartamento.

Tempo chuvoso, voltar a olhar para a mesma janela de anos anteriores.
O tempo passou e a vida pode mudou completamente, como se nem tivesse sido vivida por mim mesmo, mas sim contada por alguém.
A janela de outrora continha tão diferente momento.
Agora era apenas solitude, a boa solitude.

Run Away by Milosh on Grooveshark
Por isso acho esta experiência de estar vivo, no mínimo fabulosa.

Sei que a Maldita Palavra não é mais tão maldita. Este ano prometo a mim mesmo voltar com ela ácida como antes. Aguardem ;).

sem título – 103

bela vida esta
deste belo mundo
que não se chama
por chavão
Raimundo

paranoica vida vazia
consumida vida enlatada

depois de tanto lutar por liberdade
é a vez de ficar preso
por isso se chama rede social
esta você, eu todos presos aqui
simius zumbis pseudo pensantis

 despertando
apertando

aquele
este

com força
com forca
a forca é o foco
espera apenas pelo pescoço
que pode ser o meu
ou o seu
do Raimundo quiçá

esmas palavras que se perderam
voltem
absorvam
enforquem

sim
esta é uma suplica

sem título – 101

tão bela Lua
que de prata, a lagoa, risca

inunda a visão
enquanto Alvin Lee se encarrega da audição

angutia-me não sentir o cheiro da noite
nem mesmo dos carros que circulam sob a janela

inodoro mundo ao redor

vem tu oh Lua
inundar os sentidos que me restam